por Anderson Tabuh Paz Tavares Correia
Você
sabe quem são as pessoas com deficiência. Uma resposta curta responderia algum
conceito que contemplasse pessoas cegas, surdas, com síndrome de down,
amputados, etc. Eu gosto muito da definição da Convenção da ONU:
"Pessoas
com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdades de condições com as demais pessoas."
Essa
definição deixa de lado um antigo olhar clínico, médico, e passa a abordar um
olhar social e funcional sobre a pessoa. Ela tem algum impedimento de longo
prazo (não serve uma perna quebrada, por exemplo) e esse impedimento, em
interação com uma barreira, obstrui sua participação. A deficiência não está na
pessoa, mas na interação dela com uma barreira. Ao se retirar uma barreira, a
pessoa continua com o seu impedimento, mas passa a ter igualdade de condições
no acesso e permanência aos bens e serviços sociais.
Pois
bem. Existem diversos profissionais que trabalham pela quebra dessas barreiras.
Um bom exemplo é o intérprete de língua de sinais, que capta um discurso em
Português e o traduz para Libras, por exemplo, tornando a comunicação acessível
às pessoas surdas. Outro exemplo é o áudio-descritor, que transforma em
palavras aquilo que é visual, deixando pessoas cegas e videntes em igualdade de
acesso à comunicação. Podemos citar muitos outros profissionais que, ao atuar,
quebram barreiras e possibilitam as condições ideais para o empoderamento das
pessoas com deficiência.
Por outro lado existem pessoas que se aproveitam da situação da deficiência. São
aqueles que não querem ver o empoderamento. Gostam mesmo de ver a pessoa com
deficiência eternamente dependente, impedida de tomar decisões. Destaco dois
tipos de atitudes mais frequentes, embora a lista deva ser muito maior:
1.
Pessoas oportunistas. Muitas vezes têm ideias inovadoras,
revolucionárias, ganham prêmios, ganham dinheiro, MUITO DINHEIRO, mas em algum
momento percebem que "o buraco é mais em baixo", arranjam uma
desculpa qualquer e saem de fininho. Não sabem lidar com críticas, e em contato
com pessoas que entendem de verdade se fazem de bobas e evadem. O que eles
querem mesmo é lucrar.
2.
Pessoas assistencialistas. Seu discurso diz que as pessoas com
deficiência são vítimas, precisam de cuidados especiais. Por trás do discurso
há uma grande preocupação em manter tudo sob seu próprio controle, tomar as
rédeas da vida dos outros. Entre essas pessoas há ainda os chamados
"especialistas em deficiência". Cansei de ver “Doutora Fulaninha,
especialista em Cegos”, e “Doutor Beltraninho, especialista em Surdos”.
Trabalham para continuar sendo necessários. Não desejam a independência ou
autonomia de ninguém.
Uma
última reflexão: não me preocupa em nada se uma pessoa sem deficiência se diz
militante da causa. Eu tenho pele branca, mas não quero viver em um mundo
racista; sou homem, mas não quero viver em um mundo machista. Ninguém precisa
ser homossexual para lutar pelos direitos dos gays, nem pessoa com deficiência
para lutar por acessibilidade e inclusão. O que me preocupa de verdade são
aqueles que se aproveitam da situação do seu próximo, que tiram proveito disso,
fazem da barreira fonte de lucros.
Obviamente,
eu defendo que um profissional, seja lá de que área ele for, deve ser
remunerado de acordo com sua capacidade técnica, seu esforço, e para isso precisa
estudar, se atualizar, etc. Mas em nossa área eu só posso chamar de sério um
trabalho que objetiva a autonomia, a independência e o empoderamento da pessoa
com deficiência. Se fugir disso, para mim, não presta.
Como
diz Pedro Luís (e a parede), "tão vendendo ingresso pra ver nego morrer no
osso". E o ingresso não é nem um pouco barato...
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