quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Surdos votam em Dilma!



O que Dilma fez pelos surdos?


Entre 2011 e 2014, a Presidenta Dilma fez muitas coisas pelos Surdos brasileiros. Abaixo eu elenquei algumas das ações. Se ligue:

- Letras Libras: Autorização de abertura de 27 cursos de Letras Libras, um em cada Estado do Brasil. Muitos já estão funcionando, alguns estão quase prontos e serão inaugurados em breve. 

- Centrais de Intérpretes: Foram criadas diversas Centrais em todo o Brasil para atendimento dos Surdos em situações de saúde, cidadania e justiça.

- PRONATEC: Cursos de capacitação profissional têm PRIORIDADE e GARANTIA de acessibilidade para Surdos e para pessoas com deficiência em geral.

- Caminhos da Escola: Surdos têm garantia de transporte de casa para escola, em zona urbana e zona rural.

- Programa Incluir: Núcleos de acessibilidade criados em todas as Universidades Federais para garantir a qualidade de vida dos Surdos e das pessoas com deficiência em geral.

- BPC na Escola: Crianças Surdas que estavam fora da escola foram localizadas e matriculadas. Em breve nenhuma criança estará fora da escola. 

- BPC Trabalho: Surdos podem suspender o recebimento do BPC provisoriamente para trabalhar. Se perder o trabalho, agora podem voltar a receber BPC (antes não podia).

- Residências Inclusivas: Surdos e pessoas com deficiência em geral, em situação de vulnerabilidade (por exemplo pessoas sem casa e sem família), podem ser acolhidos nessas casas com toda dignidade.

- Centro-Dia de Referência: Surdos e pessoas com deficiência em geral que não têm opção de atividades de cuidado durante o dia podem ser atendidos nesses espaços.

- Minha Casa Minha Vida: surdos e pessoas com deficiência em geral têm direito à moradia adequada à sua condição sensorial. Recebem casas com kit de adaptação (campainha luminosa e interfone com vídeo).

- Programa Nacional de Inovação em Tecnologia Assistiva: O Governo Federal investe aqui na criação de tecnologias que facilitem a vida das pessoas surdas e pessoas com deficiência em geral através de estudos e pesquisas em Institutos, Universidades e Empresas.

- Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva: Localizado em Campinas (SP) e interligado com vários Núcleos pelo Brasil. Trabalham com pesquisa e inovação tecnológica pela melhoria da vida de pessoas surdas e pessoas com deficiência em geral.

- Crédito Acessível Banco do Brasil: existe uma lista de produtos para surdos que podem ser comprados com a ajuda do Crédito Acessível, com taxa de juros muito baixa. Entre eles os videofones e vários outros produtos.

- Identificação e intervenção precoce de deficiências: o Teste da Orelhinha foi implantado em todas as maternidades do Brasil, contribuindo na prevenção de doenças e deficiências.


E no próximo mandato ela fará tudo isso e muito mais, como:

Curso de Pedagogia Bilíngue (INES) com Polos pelo Brasil; 

- novos cursos de Letras Libras;

- novas Centrais de Intérpretes de Libras



Por isso, Surdos e Surdas do Brasil votam 
Dilma 13! 



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Aécio NEVER

Queridas e queridos,

Mais uma daquelas preciosidades que encontramos por aí na internet.

O suposto diálogo abaixo consegue sintetizar os principais argumentos dos "eleitores de Aécio" (não sei até onde são eleitores dele ou se são dos chamados "voto contra" ou "voto útil contra").

Nesse momento não estamos entre três possibilidades, "Dilma", "Aécio" ou "Voto em branco/nulo/indiferença". Essa terceira via não existe, não elege ninguém. Se omite, ignora a circunstância presente. É voto de abandono.

O texto abaixo foi atribuído a uma moça chamada "Lena Muniz", de Curitiba. Não a encontrei mas preferi manter a referência à fonte.

X: Ahh eu vou votar no Aécio.

Eu: Entendi, por quê?

X: Porque a Dilma afundou o Brasil! Olha essa inflação e esse desemprego.

Eu: A inflação média e a taxa de desemprego são as menores desde a redemocratização.

X: Mas olha o preço desses alimentos aqui!

Eu: A ingerência dos recursos hídricos do PSDB direcionou uma inflação de custos, especialmente pros produtos da agricultura.

X: E o Alckmin tem poder sobre a seca?

Eu: Não, mas desde 2003 a SABESP é avisada sobre estiagens fortes e nenhum investimento foi feito em infraestrutura. Países com períodos de seca muito maiores não tem corte de água.

X: Mas o Aécio não é o Alckmin.

Eu: A principal nascente do São Francisco em MG secou.

X: Tudo bem, mas olha a educação e a saúde desse país!

Eu: Saúde e educação são responsabilidades dos governadores estaduais. Enquanto governador, o Aécio reduziu os salários dos médicos e professores para os menores do país.

X: Mas olha a economia, as pessoas estão morrendo de fome!

Eu: Pela primeira vez, o Brasil não está no mapa de fome da ONU.

X: E essas políticas paternalistas? Chega disso!

Eu: Essas políticas salvaram a vida de milhões de brasileiros. E o Aécio quer aumentá-las, por que você está falando mal delas?

X: Enfim, o governo do PT é muito corrupto.

Eu: O maior escândalo do PT envolveu desvio de R$ 55 milhões. O Aécio sozinho é investigado por desvio de R$ 4,3 bilhões.

X: Mas olha a quantidade de notícias sobre o PT!!

Eu: É porque o PT é investigado. O Aécio e o Anastasia barraram mais de 70 CPIs em MG.

X: Mas o PSDB trouxe estabilidade!

Eu: É verdade, o PSDB reduziu a inflação. Pagando um preço alto: crescimento de 16% entre 94/98, metade da Argentina, na época do boom neoliberal; crescimento da dependência externa de 0,2% pra 5% do PIB e fim de 1,2 mil de empregos entre 1995 e 1996. Essa mesma receita neoliberal criou as crises que estamos enfrentando desde 2008.

X: O PT afundou a Petrobrás!

Eu: A Petrobrás foi de 15,4 bilhões de reais pra R$ 124 bilhões no governo do PT.

X: Mas olha MG, que estado rico.

Eu: MG tem um dos menores crescimentos do país e uma das maiores dívidas públicas.

X: Ai... FORA, PT!!

Eu: Fora você.

"Extraído do perfil de Lena Muniz - Curitiba/PT"





Queridas alunas, queridos alunos, 
(hahahah não consigo deixar de ser professor, desculpem)

A tempo: há exatos quatro anos, quando Marina ficou em terceiro lugar no primeiro turno e não apoiou o projeto de Dilma no segundo turno, eu publiquei aqui um texto de Maurício Abdalla intitulado "Marina, você se pintou (de azul)". Impressionante como ele é atual! Vale dar uma olhada.



Seguem as leituras complementares de hoje:



32 capas de jornal que vão te lembrar do Brasil dos anos 90 e governo FHC

http://plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=82131



Jornalista faz lista com 27 motivos para não votar em Aécio Neves

http://plantaobrasil.com.br/news.asp?nID=82071





PSDB é o partido mais sujo do Brasil, revela ranking da Justiça Eleitoral 

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09/psdb-partido-mais-sujo-brasil-ranking-justica-eleitoral.html




E aí, vai votar em quem?
;)


domingo, 21 de setembro de 2014

Marina e Dilma: Propostas para a Pessoa com Deficiência



As eleições estão se aproximando e ainda vejo algumas pessoas indecisas. Passei um bom tempo QUERENDO voltar a escrever em meu Blog, mas como "tempo é prioridade", acabei sumindo. Mas aqui estou novamente.

Enquanto militante, pesquisador e especialista na área de Pessoa com Deficiência, achei interessante comparar o Programa de Governo de Dilma e Marina na área de Inclusão e Acessibilidade. A seguir faço algumas considerações sobre as propostas de Marina na área:

- O despreparo de Marina com o tema fica absolutamente evidente quando ela propõe para apenas um dos segmentos algo que deveria ser proposto a todos. Por exemplo: ela propõe capacitar trabalhadores para lidar com pessoas com deficiência intelectual – e não para lidar com as outras deficiências. O mesmo equívoco se várias vezes ao longo do texto.

- Fica clara a falta de compreensão dos papéis de cada um dos Poderes. Não sabe quem fiscaliza, quem legisla, quem executa. 

- Marina não sabe nem o ano em que o CONADE foi criado, nem seu nome, nem a que Secretaria está vinculado.

- Os conceitos de Marina são tão atrasados que ela escreve "linguagem de sinais", e não Língua.

- O programa de Marina "denuncia" o fato de que "22% da população [com deficiência] em idade escolar com algum tipo de deficiência não está matriculada na rede de ensino". Sobre isso, acho justo lembrar que essa porcentagem em 2008 era de 71%. Sendo assim, 49% em seis anos foi um salto considerável.

- O mais grotesco, ao meu ver, foi propor a reserva de uma parte do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente para a pessoa com deficiência. A questão não deveria ser tratada assim. Atualmente, o Governo Federal estuda a criação de um fundo próprio para a temática. Dividir um fundo já existente foi uma estupidez marineira.

Um programa de governo como o de Marina representa, sob o ponto de vista de quem entende do assunto, um retrocesso. Quase nada é citado sobre acesso à saúde e inclusão social. O pouco que consta é superficial e inconsistente.

O plano de governo de Dilma Rousseff apresenta apenas um parágrafo sobre o tema:
“A continuidade da implementação do Viver sem Limite irá garantir igualdade de oportunidades aos brasileiros e brasileiras com deficiência, com ações de acesso à educação, atenção à saúde, inclusão social e acessibilidade.”

Apesar de ser o texto tão curto, Dilma tem a seu favor algo muito mais valioso: a prática. Nunca em nenhum outro mandato – nem mesmo nos dois mandatos de Lula – se investiu tanto (dinheiro, atenção, trabalho, pesquisa) na área da pessoa com deficiência. Dentro da Secretaria de Direitos Humanos (que tem status de Ministério) existe uma Secretaria Nacional exclusiva para a promoção e a defesa dos direitos das pessoas com deficiência, com uma equipe muito grande e capacitada, da qual pude fazer parte durante um ano. E no governo da presidenta Dilma, TODOS os Ministérios (todos, absolutamente todos) trabalham pela inclusão das pessoas com deficiência. Como passei pelo Governo, a maior mudança que pude observar não é tão fácil de ser percebida por quem está do lado de fora. Eu percebi que a pauta da pessoa com deficiência foi inserida definitivamente no cotidiano Executivo, e não são toleradas abordagens superficiais ou assistencialistas.

Ao garantir em seu Plano de Governo a continuidade do Viver sem Limite – o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Dilma contempla a continuidade de uma série imensa de ações, a saber:

- Na Educação, o BPC na Escola, levando para a sala de aula esses 22% de crianças e adolescentes em idade escolar que ainda não frequentam a educação formal; o Caminho da Escola, distribuindo ônibus acessíveis para o transporte das crianças com deficiência; o Escola Acessível, promovendo reformas estruturais nas escolas, possibilitando o acesso e a permanência dos alunos com deficiência; as salas de recursos multifuncionais, associadas à capacitação e treinamento dos professores para o atendimento educacional especializado; o PRONATEC, priorizando as pessoas com deficiência na matrícula de cursos profissionalizantes, colaborando consequentemente com sua inserção no mercado de trabalho; o Incluir, que criou em todas as universidades federais um núcleo de acessibilidade para garantir a inclusão de alunos, professores e funcionários com deficiência; a criação de cursos de Letras Libras em todos os Estados do país, para garantir a formação de professores e de intérpretes da Língua de Sinais; a criação do curso de Pedagogia Bilíngue, com polos espalhados pelo Brasil, para a formação de professores de surdos para as séries iniciais.

- Na Saúde, a criação de novos e fortalecimento de existentes Centros de Referência em Reabilitação, ligados a uma Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência; a identificação e intervenção precoce de deficiências, através da ampliação do teste do pezinho, olhinho e orelhinha; criação de oficinas ortopédicas e oferta de órteses e próteses e meios auxiliares de locomoção; o programa de atenção à saúde bucal da pessoa com deficiência, nos Centros de Especialidade Odontológica; entre outras.

- Na Inclusão Social, o BPC Trabalho, promovendo capacitação e inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho; os Centros-Dia, locais de referência para o atendimento das pessoas com deficiência e suas famílias; as Residências Inclusivas, focada no acolhimento das pessoas com deficiência em maior situação de vulnerabilidade; entre outras.

- Na Acessibilidade, a reformulação do Minha Casa Minha Vida, para que todas as casas do programa sejam adaptáveis, e aquelas que são entregues às famílias de pessoas com deficiência sejam adaptadas; a criação de Centros Tecnológicos Cães-Guia, capacitando treinadores de cães e preparando pessoas cegas e cães-guia; o incentivo à criação de tecnologias assistivas brasileiras, através do Centro Nacional em Referência em Tecnologias Assistivas e diversos núcleos espalhados pelo Brasil; e o crédito facilitado para aquisição de tecnologias assistivas através do Banco do Brasil.


Óbvio que meu texto vai parecer tendencioso a votar em Dilma. Mas as coisas estão tão óbvias que você não precisa de muito trabalho para chegar à mesma conclusão. Uma vez, em entrevista ao Ratinho, Dilma disse uma grande verdade: ela é a única candidata que pode discursar com a prática, fazer campanha trabalhando. E como sou a favor da continuidade deste projeto, recomendo que você, pessoa com deficiência, familiar, amigo, profissional da área, considere a respeito dos avanços que lhe interessam nos próximos quatro anos. Não dá pra escolher pelo amador e superficial. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

PE avança mais na economia que no social

A seguir, íntegra do comentário de André Forastieri no Portal R7, seguida da citada reportagem escrita por Murillo Camarotto, no Valor Econômico. As partes destacadas em negrito/vermelho são por minha conta. Já que os meios de comunicação pernambucanos estão todos articulados pela candidatura de Eduardo, os textos servem como uma reflexão por outro ponto de vista.

Fontes: André Forastieri - R7 / Murillo Camarotto - Valor Econômico

Desempenho em Pernambuco desqualifica candidatura de Eduardo Campos à presidência

Publicado em 14/11/2013 às 14:08

Pernambuco piorou sob Eduardo Campos. Não há porque imaginar que faria melhor, governando o Brasil. É sua performance que deve ser avaliada, e não sua juventude ou "novas idéias". Não cabem debates vazios sobre Marina Silva, e sua suposta santidade ou suposto fundamentalismo. Marina pode e deve ser avaliada - inclusive por associar sua força política a um gestor tão medíocre. Mas é o currículo de Campos que precisa ser esquadrinhado agora.

Eduardo tem 48 anos. É formado em economia. Nunca trabalhou na iniciativa privada. Com 21 anos, em 1986, foi ungido chefe de gabinete de seu avô, Miguel Arraes. Em 1990, 25 anos, se elegeu deputado. De lá para cá só fez política. Governa o estado desde 2007. Conquistou o eleitorado como herdeiro político de Arraes, três vezes governador de Pernambuco; Eduardo foi secretário da fazenda, em uma das gestões. Vem sendo apresentado como candidato moderno e independente, próximo de empresários e ambientalistas, de tucanos e petistas. Não quer ser do contra. Diz que é capaz de "fazer melhor".

Se é mesmo, porque não fez em Pernambuco? O discurso de Campos não resiste a uma brisa de realidade. A reportagem de Murilo Camarotto, do Valor, é um tufão. Camarotto fez um levantamento detalhado dos dois últimos censos da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), e cruzou com dados dos ministérios da Saúde e Educação. Ouviu especialistas em Pernambuco. Escreveu uma reportagem de uma página. O texto é de jornal, sóbrio. As conclusões são arrasadoras para a candidatura de Campos.

A maior parte dos indicadores sociais de Pernambuco não subiu na gestão Campos. Diversos caíram. O estado caiu no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ficou estagnado em expectativa de vida. Dos 23 estados brasileiros, Pernambuco está em 17º no Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Subiu somente um degrau desde 2005, um ano antes da eleição de Campos. No ensino médio se manteve em 17º, no período. O estado é o 8º com mais analfabetos. É o 16º em acesso a abastecimento de água, 19º em consultas médicas por habitante, e por aí vai.

A desculpa que é estado nordestino e pobre não justifica. Pernambuco teve performance pior que vários estados nordestinos. E foi dos estados que mais recebeu verba federal - recebeu mais de 2 mil obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.

A reportagem de Camarotto aponta melhora em alguns poucos indicadores. Mas revela um fato surpreendente. Explica porque o PIB pernambucano cresceu tanto (5,1% ao ano entre 2006 e 2012) e sua população continua com uma vida tão difícil. A professora da Universidade Federal de Pernambuco, Tatiane de Menezes, se baseia no chamado Índice Sintético de Pobreza Multidimensional para dar seu veredito sobre o governador. O índice agrega dados de acesso ao conhecimento e ao trabalho, disponibilidade de recrusos, desenvolvimento infantil, vulnerabilidade e condições habitacionais.

No Nordeste, Pernambuco foi o segundo estado que  menos baixou este indicador entre 200 e 2010. Sua posição no ranking da pobreza "multidimensional" inclusive subiu, de oitavo para sexto lugar. Segundo a economista, o crescimento do PIB se deu através de uma industrialização forçada, que atrai fábricas dando muitos benefícios fiscais e recursos do estado. "O PIB fica acima da média nacional", diz Tatiane, "mas vai para poucos empresários." E as melhores vagas, segundo ela, vão para trabalhadores que vêm do Sul e Sudeste. São fatia cada vez maior da população economicamente ativa de Pernambuco. Os pernambucanos não têm qualificação para estas vagas, justamente as melhor remuneradas.

Importante dizer que a violência caiu. Caiu 5,5% ao ano entre 2008 e 2013. Pernambuco foi dos poucos estados que conseguiu reduzir a violência no período. E com isso tudo, ainda é o segundo estado mais violento, com 38 assassinatos para cada cem mil habitantes, ficando apenas atrás de Alagoas.

A performance de Eduardo Campos faz as gestões pedestres de Aécio Neves e Dilma Rousseff parecerem brilhantes. Minas e Brasil avançaram muito mais que Pernambuco. Aliás, a maioria dos vizinhos de Pernambuco no nordeste também avançaram muito mais. Campos conquistou a avaliação de governador mais bem avaliado do Brasil à custa de factóides e relações públicas, que não resistem à análise fria dos dados.

O trabalho de Murilo, correspondente do Valor em Recife, é nova prova de que ainda há espaço - e necessidade - para o bom e velho jornalismo, investigativo e analítico. E demonstra que o Brasil não tem terceira via nas eleições de 2014. Por enquanto.


PE avança mais na economia que no social
Por Murillo Camarotto | Do Recife - 07/11/2013 às 00h00


Estudantes em fila empurrando seus carrinhos com malas em um aeroporto, cercados por uma grande quantidade de pessoas paradas em postura de expectativa.

Bernardo Soares/JC Imagem/Folhapress - 01/01/2013
Alunos do ensino público desembarcam no Recife depois de intercâmbio internacional: melhoria no fundamental é superior à do combate ao analfabetismo

A quinta-feira do último dia 5 de setembro mal começava e o saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife, já estava abarrotado. Bandeiras do Brasil, de Pernambuco, cartazes, famílias, amigos, fotografias, muito choro e riso. Em pouco tempo, 50 estudantes da rede estadual rasgariam o céu sem nuvens rumo ao gélido Canadá. Serão seis meses de intercâmbio para os jovens, quase todos da periferia.

Cinegrafistas acompanhavam a algazarra naquela manhã. Batizado de "Ganhe o Mundo", o programa de intercâmbio implantado pelo governador Eduardo Campos (PSB) costuma estrelar a publicidade oficial do pré-candidato à Presidência da República. Por trás do apelo emocional do programa, entretanto, estão os indicadores da educação pública, que seguem entre os piores do país.

Levantamento feito pelo Valor com base nos dois últimos censos, na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) e em dados dos ministérios da Saúde e da Educação mostra que, apesar do crescimento econômico superior à média nacional e da popularidade do governador mais bem avaliado do país, Pernambuco não viu seus indicadores sociais ganharem posições no país. O Estado caiu no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e ficou estagnado em expectativa de vida.

Na educação, as escolas estaduais de Pernambuco têm apenas a 17ª nota nacional para os alunos do 1º ao 5º ano no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. A posição subiu somente um degrau desde 2005, um ano antes de Campos ser eleito. Entre o 6º e o 9º anos, o Estado se saiu melhor. Passou de último no ranking nacional para 19º, ainda assim bem atrás de vizinhos como Ceará, Piauí e Maranhão.

No ensino médio, Pernambuco se manteve em 17º, superado regionalmente pelo Ceará. A performance do Estado, segundo o governo, é bem melhor quando consideradas apenas as escolas em tempo integral, cuja rede está sendo ampliada. Segundo a secretaria estadual de Educação, atualmente 122 unidades funcionam em tempo integral em um universo de mais de mil escolas.

O desempenho nos exames avança menos que os investimentos da Pasta. Desde 2010, avançaram, em média, 5,6% ao ano. A secretaria informou que estão empenhados para 2013 quase R$ 275 milhões. Infraestrutura, tecnologia em sala de aula, construção de escolas técnicas e material didático estão entre as prioridades.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) critica a estratégia do governador, com quem tem um histórico atribulado. "É a política de algumas poucas escolas escolhidas para investir. O Estado não quer mais o ensino fundamental e vai entregá-lo aos municípios. Cerca de 600 escolas podem ser repassadas", disse o secretário de comunicação da entidade, Zélito Passavante.

Assim como vem ocorrendo em outros Estados, o governo de Pernambuco colocou em curso um plano para repassar às prefeituras a gestão do ensino fundamental, conforme descrito na Lei de Diretrizes e Bases. O governo alega que não somente a estrutura física, mas também os recursos financeiros referentes a essas escolas serão repassados aos prefeitos.

"Será prejudicial ao ensino. A precariedade de recursos e de estrutura é muito maior nos municípios. Os professores são menos qualificados na rede municipal", exemplifica Passavante.

Pernambuco também segue entre os campeões nacionais do analfabetismo. O Estado era o 8º com mais analfabetos no país em 2010, uma posição acima da ocupada em 2006. Além disso, Pernambuco foi um dos que menos reduziu a taxa no período, com desempenho inferior a quase todos os vizinhos.

Texto alternativo não disponível.

Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a economista Tatiane de Menezes se baseia no chamado Índice Sintético de Pobreza Multidimensional para atestar o resultado - segundo ela, modesto - da gestão Campos na área social. O índice agrega dados de acesso ao conhecimento e ao trabalho, de disponibilidade de recursos, desenvolvimento infantil, vulnerabilidade e condições habitacionais.

No Nordeste Pernambuco foi o segundo Estado que menos baixou o indicador entre 2000 e 2010. Assim, sua posição no ranking da pobreza multidimensional subiu do 8º para o 6º lugar no Nordeste. O pior desempenho se deu no indicador que mede a falta de acesso ao conhecimento, no qual Pernambuco saltou de 9º (melhor posição na região) para 6º.

A economista vê equívocos no modelo de desenvolvimento focado na industrialização. Para ela, o afã de atrair fábricas resulta na entrega - por meio de benefícios fiscais - de boa parte dos recursos estaduais. "Quando isso acontece [a chegada de indústrias], o PIB sobe, fica acima da média nacional, mas vai para poucos empresários", argumenta Tatiane.

Estimativa da consultoria Datamétrica aponta que, entre 2006 e 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco avançou, em média, 5,1% ao ano, performance superior à do Brasil e de todos os vizinhos do Nordeste. A economia do Estado deve ganhar ainda mais peso quando entrarem em operação grandes obras como a fábrica da Fiat e a refinaria Abreu e Lima.

Sem qualificação para ocupar as melhores vagas criadas, sustenta Tatiane, os pernambucanos se beneficiam apenas da demanda marginal resultante dos investimentos. Um dos efeitos é o avanço da fatia de trabalhadores vindos do Sul e do Sudeste na população economicamente ativa de Pernambuco. "Quando há essa política de levar o emprego à pessoa e não a pessoa ao emprego, o foco não é o desenvolvimento", defende.

Também da UFPE, a economista Tânia Bacelar relativiza a tese. A seu ver, independentemente da concessão de benefícios fiscais para atrair indústrias, os governos estaduais não reúnem condições de arcar com políticas sociais de impacto relevante. "A situação social não reflete o caixa do Estado, mas uma herança pesada, no Nordeste em particular. Os Estados não são o principal agente de transformação. Quem tem cacife para atuar é a União", reitera a economista.

Praticamente todos os indicadores sociais melhoraram significativamente nos últimos anos no país, sobretudo no Nordeste, onde a base era - e ainda é - muito fraca. O difícil, lembra Tânia Bacelar, é separar o que é política estadual e o que veio da conjuntura econômica do país.

Quando enfrentar o PT nas urnas, Campos será apontado como um dos grandes beneficiários dos investimentos federais. Especializado em economia nordestina, o professor da Universidade Federal de Alagoas Cícero Péricles lembra que Pernambuco recebeu mais de 2 mil obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Ele ressalta, contudo, que Campos aproveitou como ninguém a oportunidade. O governador montou uma equipe que se especializou em atender com eficiência de mercado os potenciais investidores. "O pernambucano tem hoje a sensação que o baiano teve nos anos 1970, de que o Estado, finalmente, entrou nos trilhos do desenvolvimento", explica Péricles.

Uma das áreas em que Campos aproveitou a ajuda federal foi a saúde. A manutenção das 15 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Estado é parcialmente financiada pela União. Os equipamentos ajudaram a melhorar o atendimento, apesar de alguns indicadores oficiais ainda não atestarem ganho de posições. Entre 2006 e 2010, Pernambuco caiu de 16º para 19º lugar em número de consultas médicas por habitante feitas pelo SUS. O Estado também permaneceu com a 24ª expectativa de vida, terceira menor do país.

O governo rebate. A assessoria de imprensa de Campos informou que o número de consultas cresceu 152% em números absolutos nos últimos quatro anos. Não foi contestada, no entanto, a queda no índice de atendimentos por habitante. O governo prefere o Pnud ao IBGE para medir a expectativa de vida. Pelo instituto nacional, Pernambuco estava na 24ª posição em 2006 e assim permanece no ranking brasileiro de expectativa de vida. Já o indicador das Nações Unidas colocava Pernambuco na 16ª posição no ranking nacional e hoje o tem em 20º.

Já no controle da mortalidade infantil, Pernambuco teve comportamento acima da média. O Estado registrou a terceira maior taxa de redução entre 2006 e 2010, caindo da 6ª para a 16ª posição no ranking de óbitos para cada 100 mil nascidos vivos.

Os investimentos da secretaria estadual de Saúde têm ficado ao redor dos R$ 200 milhões por ano desde 2010. Campos, contudo, tem estruturado o setor. No seu segundo mandato, cujos dados ainda não estão contemplados nas estatísticas, foram inaugurados três novos hospitais na Região Metropolitana do Recife. O governador também está reformando e ampliando as principais emergências do Estado, como as dos hospitais Barão de Lucena e da Restauração.

A gestão dos novos hospitais e de algumas UPAs ficou com o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), cujo presidente licenciado, Antonio Figueira, ocupa desde janeiro de 2011 a Secretaria Estadual de Saúde. Ele é um dos cotados para suceder Campos nas eleições do ano que vem.

As melhorias no setor foram afiançadas por muitos médicos ouvidos pelo Valor, porém a saúde continua, segundo pesquisas, entre as principais queixas dos pernambucanos. Somente no mês passado, o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) identificou e denunciou problemas estruturais e de superlotação em três hospitais estaduais. Durante os protestos de junho, enfermeiros exibiram faixas contra a gestão Campos.

"De modo geral, se o desempenho da economia tem sido destacado, mas não se sabe até que ponto essa riqueza é distribuída socialmente. O modelo adotado não está resultando em melhora significativa dos indicadores sociais. E quando melhora é porque estava muito ruim", sintetiza o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco.

Ele pondera, no entanto, que os resultados econômicos são percebidos mais rapidamente do que os sociais. Na sua avaliação, a mudança efetiva na área social vai levar uma geração para aparecer. "Mas é fato que o crescimento econômico do Estado passa a imagem de que a parte social vai tão bem quanto, o que não é verdade", completa.



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sexta-feira, 21 de junho de 2013

O que esse tal gigante tem lido?

Eu não queria falar sobre as manifestações de ontem. Não mesmo. Mas está mais forte do que eu. Tentarei ser breve e espero ser ao mesmo tempo conciso (para não cansar o leitor) e completo (o suficiente para não precisar voltar a falar disso).

Seu feed de notícias deve estar cheio de comentários, mas já que você começou a ler o meu post, espero que tenha o carinho de não considerá-lo só mais um comentário.

Só saberemos a verdadeira dimensão do que aconteceu ontem ao longo dos próximos dias. Desculpem meu jeito capricorniano mais realista, mas a sensação que eu tenho é que a Mídia Golpista (Globo+Veja+Folha+agregados) colocou o Movimento no bolso (LEIA AQUI). 

Uma militância atuante desde sempre começou a manifestação, formada essencialmente pelos movimentos sociais, estudantis, sindicalistas, por diferentes partidos. Um movimento com bandeira, com cor, com nome e endereço. E eles despertaram um suposto “gigante”. Esse gigante não é a coletividade brasileira, tampouco a militância brasileira. Esse gigante é simplesmente o brasileiro com um mínimo de boa vontade (nada heroico), com vontade de viver em um lugar melhor (quem não quer?), mas um brasileiro que não estudou política, que não estudou história, que meramente lembra em quem votou [no máximo] na última eleição, um brasileiro com discurso vazio, que lê a Veja, que assiste o Jornal Nacional, que tem o UOL como página inicial de seu navegador.

Pois bem. A Militância começou o barulho, e o “gigante” ao lado acordou e resolveu se mexer também. Mas esse gigante não sabe para onde ir, então qualquer lugar serve. Falar que esse gigante não sabe votar é pouco. Esse gigante despolitizado não sabe a diferença entre os Três Poderes, não sabe o que é uma Comissão na Câmara, não sabe o que é um Conselho Municipal de qualquer tema enquanto mecanismo de controle social, não sabe o que é um Orçamento Participativo, nunca participou de uma Conferência. Ele só sabe o que ensina a revista Época, o que é dito pelo William Bonner e Evaristo Costa. Então esse gigante é facilmente domesticado pelos meios de comunicação. E o gigante se apropriou do espaço conquistado pelos militantes. Bateu neles. Atirou neles. Roubou suas bandeiras. Botou fogo. Gritou para que o militante saísse de cena.

A mídia, que repetiu milhões de vezes que “o movimento é apartidário”, não é apartidária. Seu discurso tem uma intenção clara. Como é que se diz que “é um movimento pacífico” enquanto se fala 1 minuto do aspecto positivo e 29 das depredações, lojas saqueadas e violência? Como se diz que “é um movimento apartidário” se foi iniciado por uma militância específica? QUER SABER QUAL É O DISCURSO DA MÍDIA? Veja em que cartazes eles dão close. Veja a cor, a classe social e a opinião das pessoas que fotografam, filmam e entrevistam. Está tudo ali, diante dos teus olhos, cidadão.




Ok, se você insiste que “o gigante acordou”, vou dar-lhe um conselho. Sai dessa manifestação, volta pra casa, vá estudar um pouco, entenda como teu Brasil funciona, crie uma proposta efetiva dentro dos princípios democráticos antes de voltar a fazer tanto barulho, enchendo os bolsos dos meios de comunicação fascistas do Brasil. Escolha uma temática, vá a uma plenária de um Conselho de Educação ou Saúde em sua cidade, dá uma ligadinha pro deputado que você elegeu, leia mais, discuta com gente inteligente, e coloque as páginas dessas revistas estúpidas na gaiola do seu passarinho pra ele cagar em cima.  

Resumindo:



Pra terminar, um vídeo interessante que merece ser considerado. 


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Porcas, parafusos e a totalidade do ser humano



Ontem pela manhã, esperando a hora de sair de casa para mais um dia de trabalho, resolvi dar uma passadinha no Facebook e procurar qualquer novidade para passar o tempo. Eis que deparo com a figura acima, compartilhada por um ex-aluno da faculdade.

Em um primeiro momento o que mais me indignou na linguagem metafórica foi pensar que uma porca com um parafuso são mais “casal” do que dois seres humanos. Comentei:
“Na sua concepção uma porca com um parafuso são mais "casal" do que dois homens ou duas mulheres?”

Fechei o Facebook e segui minha agenda, com aquela informação martelando na cabeça. De súbito, em determinado momento do dia, me ocorre um pensamento muito mais forte: de acordo com a “concepção” de quem montou a imagem, o pênis – representado pelo parafuso – e a vagina –representada pela porca – sintetizam a diferença entre homem e mulher e, portanto, resume-se o ato sexual na penetração do pênis na vagina. A comparação é, além de obviamente infeliz, degradante inclusive às pessoas de orientação heterossexual.

Talvez o tal (ex) aluno não tenha se fixado à citada reflexão. O rapaz abandonou nosso curso e não cursou comigo a disciplina “Análise do Discurso”. Pode ser (não estou afirmando, apenas supondo) que não tenha desenvolvido um senso crítico suficiente para refletir determinados assuntos; talvez não tenha adolescido em sua retardada mentalidade a competência de compreender o que há por trás do que é dito. Desconfio sinceramente que não tenha passado em suas mãos nenhum livro de Pêcheux ou muito menos Foucault. O que me conforta é que tal tarefa pedagógica não cabe mais a mim.

Voltando à metáfora infeliz, achei interessante como há uma doutrina que degrada o gênero humano. Prega que a sexualidade existe apenas para fins de reprodução – portanto as formas côncava e convexa, representando o encaixe entre os órgãos genitais, como única manifestação possível (na verdade permitida) no ato sexual. A degradação continua ao aplicar tão mesquinha comparação a casais do mesmo sexo, que não formam portanto “casais”, mas apenas “pares”. Qualquer coisa que não rosqueie como um parafuso e uma porca fogem à lógica heteronormalista, é desvio, é pecado, reforçando os preconceitos de quem gosta muito de separar “o que é de deus” e “o que é do mundo”, o sagrado e o profano, os nossos e os outros, os santos e os pecadores. Sim, escolhem um dos pecados daquela lista gigantesca e o elegem prioritário, encabeçando a relação dos que devem ser considerados os critérios de inclusão e exclusão do que consideramos anormal e repudiável. Os pecados deles são menores, obviamente: dobram os joelhos diante da presença esquizofrênica de um espírito carrasco-misericordioso e se sentem logo perdoados em suas consciências autolimpantes.

Não sei, sinceramente, o que eu diria ao tal ex-aluno, se tivesse a oportunidade. Ele exerceu o direito democrático de expor em uma rede social sua (infeliz) visão de mundo, em um espaço que lhe é nominal. E eu, fazendo uso de outro direito permitido pela democracia em que vivemos, excluí o vínculo de nossos perfis na famosa rede social. Desfiz a amizade no facebook, é verdade, pois não sou obrigado a “seguir” alguém que dissemina o ódio, incentiva a discriminação e pratica comigo um tipo de violência simbólica que machuca de forma veemente a dignidade de pessoas homo e heterossexuais.

Não o ignoraria em uma situação presencial, obviamente, aliás, eu adoraria poder sentar frente a frente e descascar seus argumentos, um por um, até vê-lo na nudez de sua ignorância. E depois disso gostaria de ter a chance de mostrar como tal doutrina tem alimentado em uma camada considerável da população um sentimento de rejeição, abandono, julgamento, exclusão; de como tal rejeição têm se transformado em repúdio, recusa, “abuso” da religião, algo que deveria despertar bons sentimentos, mas que no fim o muro entre “santos” e “pecadores” vai ficando tão alto que não nos inspira mais nenhum desejo de suprimi-lo.

Por fim, respeitarei sim seu direito à ignorância, mas lembro que você não tem direito de dizer como Maria, José, eu ou qualquer ser humano viva ou não viva. Seja feliz rosqueando teu parafuso em alguma porca que te queira, eu sou muito mais que isso, eu sou inteiro, e felizmente não dependo de que você concorde ou entenda.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A Indústria da Deficiência


por Anderson Tabuh Paz Tavares Correia

Você sabe quem são as pessoas com deficiência. Uma resposta curta responderia algum conceito que contemplasse pessoas cegas, surdas, com síndrome de down, amputados, etc. Eu gosto muito da definição da Convenção da ONU:

"Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas."

Essa definição deixa de lado um antigo olhar clínico, médico, e passa a abordar um olhar social e funcional sobre a pessoa. Ela tem algum impedimento de longo prazo (não serve uma perna quebrada, por exemplo) e esse impedimento, em interação com uma barreira, obstrui sua participação. A deficiência não está na pessoa, mas na interação dela com uma barreira. Ao se retirar uma barreira, a pessoa continua com o seu impedimento, mas passa a ter igualdade de condições no acesso e permanência aos bens e serviços sociais.

Pois bem. Existem diversos profissionais que trabalham pela quebra dessas barreiras. Um bom exemplo é o intérprete de língua de sinais, que capta um discurso em Português e o traduz para Libras, por exemplo, tornando a comunicação acessível às pessoas surdas. Outro exemplo é o áudio-descritor, que transforma em palavras aquilo que é visual, deixando pessoas cegas e videntes em igualdade de acesso à comunicação. Podemos citar muitos outros profissionais que, ao atuar, quebram barreiras e possibilitam as condições ideais para o empoderamento das pessoas com deficiência.

Por outro lado existem pessoas que se aproveitam da situação da deficiência. São aqueles que não querem ver o empoderamento. Gostam mesmo de ver a pessoa com deficiência eternamente dependente, impedida de tomar decisões. Destaco dois tipos de atitudes mais frequentes, embora a lista deva ser muito maior:

1. Pessoas oportunistas. Muitas vezes têm ideias inovadoras, revolucionárias, ganham prêmios, ganham dinheiro, MUITO DINHEIRO, mas em algum momento percebem que "o buraco é mais em baixo", arranjam uma desculpa qualquer e saem de fininho. Não sabem lidar com críticas, e em contato com pessoas que entendem de verdade se fazem de bobas e evadem. O que eles querem mesmo é lucrar.

2. Pessoas assistencialistas. Seu discurso diz que as pessoas com deficiência são vítimas, precisam de cuidados especiais. Por trás do discurso há uma grande preocupação em manter tudo sob seu próprio controle, tomar as rédeas da vida dos outros. Entre essas pessoas há ainda os chamados "especialistas em deficiência". Cansei de ver “Doutora Fulaninha, especialista em Cegos”, e “Doutor Beltraninho, especialista em Surdos”. Trabalham para continuar sendo necessários. Não desejam a independência ou autonomia de ninguém.

Uma última reflexão: não me preocupa em nada se uma pessoa sem deficiência se diz militante da causa. Eu tenho pele branca, mas não quero viver em um mundo racista; sou homem, mas não quero viver em um mundo machista. Ninguém precisa ser homossexual para lutar pelos direitos dos gays, nem pessoa com deficiência para lutar por acessibilidade e inclusão. O que me preocupa de verdade são aqueles que se aproveitam da situação do seu próximo, que tiram proveito disso, fazem da barreira fonte de lucros.

Obviamente, eu defendo que um profissional, seja lá de que área ele for, deve ser remunerado de acordo com sua capacidade técnica, seu esforço, e para isso precisa estudar, se atualizar, etc. Mas em nossa área eu só posso chamar de sério um trabalho que objetiva a autonomia, a independência e o empoderamento da pessoa com deficiência. Se fugir disso, para mim, não presta.

Como diz Pedro Luís (e a parede), "tão vendendo ingresso pra ver nego morrer no osso". E o ingresso não é nem um pouco barato...



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Desabafo cidadão - Parte I

Dentro do ônibus curta seu som legal. Use fones de ouvido.
Campanha do Grande Recife Consórcio de Ônibus já tentou conscientizar os usuários... sem sucesso.

Quem me conhece sabe que sou um cara calmo, tranquilo...

Quem me conhece DE VERDADE sabe que não sou nada disso.

Minha natureza é indignada, militante, NERVOSA.

O lado mais "id" dessa "brabeza" eu procuro controlar dos meus 16 anos pra cá, quando comecei meditação, terapia, e a busca por uma nova espiritualidade. Mas se eu falar que é fácil, estaria mentindo.

Pois bem, uma das coisas que mais me irrita é quando um indivíduo viola o direito coletivo em busca de seus caprichos, conveniências, privilégios (ou de sua péssima educação, mesmo). Ontem mesmo eu andei de ônibus em Recife em três itinerários, e nos três encontrei alguém ouvindo música no celular sem fone de ouvido.

Mesmo se eles estivessem ouvindo Elis Regina, Nouvelle Vague, Roberta Sá, Jorge Drexler... não teriam esse direito! E para piorar, nunca ouvem nada assim, digamos, de "qualidade musical". Mas sua falta de civilidade não lhes permite enxergar ao redor e ter o bom senso de que as outras 50 pessoas no ônibus NÃO SÃO OBRIGADAS a ouvir seu som!

Protetores auriculares de espuma, os melhores amigos de uma pessoa como eu, que tenho DPAC

A melhor notícia da semana foi que o Deputado Estadual Eriberto Medeiros (PTC) [SEU LINDO!] criou uma lei, aprovada pela Assembléia Legislativa esses dias. A partir de 28 de agosto de 2012, é expressamente proibido na Região Metropolitana do Recife, dentro de coletivos, o uso de aparelhos sonoros sem fone de ouvido.
PARA NOOOOSSA ALEGRIAAAA!!!





Ainda bem! Eu estava QUASE tendo a reação desse rapaz neste vídeo:



Segue abaixo a referida Lei:



LEI Nº 14.681, DE 28 DE MAIO DE 2012.
Dispõe sobre a proibição de utilização de aparelhos sonoros ou musicais no interior de veículos utilizados no transporte público de passageiros no âmbito da Região Metropolitana do Recife – RMR e no transporte público de passageiros no âmbito intermunicipal, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO:
Faço saber que tendo em vista o disposto nos §§6º e 8º do art. 23, da Constituição do Estado, o Poder Legislativo decreta e eu promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º Fica proibido o uso de aparelhos sonoros ou musicais por parte dos usuários no interior de veículos utilizados no transporte público de passageiros no âmbito da Região Metropolitana do Recife – RMR e no transporte público de passageiros no âmbito intermunicipal, salvo aparelhos auditivos de uso pessoal.

§ 1º Para fins desta Lei, a expressão aparelhos sonoros ou musicais compreende, dentre outros, os tocadores pessoais de música em formato digital, telefone celular, Ipod, Tablet, notebook, netbook, rádio, MP3, MP4 e similares.

§ 2º A proibição instituída nesta Lei compreende, dentre outros, os veículos destinados ao transporte rodoviário, como ônibus, vans, autolotações, ao transporte aquaviário, como barcos, ferry boats, balsas e similares e ao transporte ferroviário, como trens, metrôs ou VLTs.

Art. 2º É obrigatória a fixação de avisos proibitivos nos locais abrangidos pela presente Lei, com indicação do número e data da mesma, em letras legíveis e de fácil visualização, contendo a seguinte expressão:
"É proibido o uso de aparelhos sonoros ou musicais sem a utilização de fone de ouvido, sob pena de multa, conforme determina a Lei Estadual nº 14.681, de 2012."

Art. 3º Os responsáveis pelos veículos deverão adotar as seguintes providências caso constatem a existência de usuário descumprindo o disposto nesta Lei:
I - convidar o usuário a se retirar do veículo; e
II - caso o usuário não se retire do veículo, solicitar a intervenção policial.

Art. 4º Os estabelecimentos que descumprirem o disposto nesta Lei ficarão sujeitos às seguintes penalidades:
I - advertência, quando da primeira autuação da infração;
II - multa, quando da segunda autuação.
Parágrafo único. A multa prevista no inciso II deste artigo será fixada entre R$ 1.000,00 (um mil reais) e R$ 100.000,00 (cem mil reais), graduada de acordo com a natureza e proporção da ocorrência, com seu valor atualizado pelo IPCA ou qualquer outro índice que venha substituí-lo.

Art. 5º Caberá ao Poder Executivo regulamentar a presente Lei em todos os aspectos necessários para a sua efetiva aplicação.

Art. 6º Esta Lei entra em vigor após 90 (noventa) dias de sua publicação.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

filhodap



Fiquei um tempão sem postar, eu assumo...
Durante este período, canalizei minha energia criativa para o Zine Pasárgada e acabei deixando o meu próprio blog em segundo plano. Agora o Zine fechou, e como bateu aquela vontade de postar, estou aqui de novo. Até aproveitei para registrar um domínio e deixar o endereço do blog mais curto e fácil de decorar! 

Como meu blog é aberto a todas as idades, vou tomar hoje muito cuidado e evitar escrever uma palavra específica (vocês já saberão qual é). Acontece que se algum chato denunciar meu blog por uso de palavrão, ele vai parar na lista de "blogs para maiores", com aquela mensagem de "tem certeza que quer acessar este blog?" no início! Eu não quero isso (por enquanto). 

Hoje quero falar algo sobre elas, especialmente elas (às vezes eles), as garotas de programa, as prostitutas, as meretrizes, as p#ta$, e falando com o português politicamente correto: as profissionais do sexo. Linguisticamente falando, estes termos historicamente foram colocados no balaio dos "palavrões", das palavras utilizáveis para ofender alguém, seja referindo-se ao próximo ou à mãe do próximo. 

Fiz uma pequena pesquisa e descobri que a palavra p#ta se origina do latim "putus", que significa "menino", e no latim vulgar se transformou em "puttus" e ao se flexionar para o feminino se transformou em "putta". Outro significado, também do latim, vem de "putìdus", ou seja, algo que cheira mal, estragado. Sendo assim, é provável que uma palavra simples como "menina" tenha se tornado pejorativa (várias outras palavras tiveram um percurso etimológico semelhante). 

Já ouvi mil vezes que essa é a profissão mais antiga da história e bla bla bla... se a informação confere ou não, eu acho que agora não vem ao caso. Eu, como a maioria dos brasileiros, cresci ouvindo o termo de forma negativa, considerando as pessoas que atuam nessa área como inferiores, e por ai vai. Cresci ouvindo o termo p#ta ou seus derivados como palavrões, palavras de baixo calão, depreciativas. 

Em 2006 fui trabalhar na Secretaria de Direitos Humanos e aprendi a rever conceitos, quebrar paradigmas. Eu nem sabia, mas carregava alguns tipos de racismo, de homofobia (especialmente contra travestis e transexuais), e de outros preconceitos. Trabalhar nessa Secretaria me transformou de uma maneira muito marcante. E nessa caminhada, ouvia sempre falar de uma guerreira chamada Nanci Feijó. Ela era a presidenta da Associação Pernambucana das Profissionais do Sexo. Uma mulher que dedica sua vida a orientar as mulheres sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, violências contra o segmento, incentivava as meninas a contribuir com a previdência social, a estudar... 


Um dia recebi uma senhora na minha sala, pedindo orientações sobre a matrícula de seu neto (surdo) na rede municipal de ensino, com atendimento especializado. Conversei um bom tempo com ela, até que pedi seus dados, pois entraria em contato depois de verificar sua solicitação. A surpresa foi quando ela disse seu nome: Nanci Feijó. "Você é a famosa Nanci? A presidenta da APPS? Poxa, que alegria te conhecer! Aqui em Direitos Humanos falam muito bem da senhora!" Ela ficou toda boba, um pouco tímida, mas conversamos um bom tempo e aprendi muitas coisas naquela conversa. 

Comecei a re-significar a ideia que eu tinha das profissionais do sexo. Quem é o dono do corpo delas? Elas mesmas? Ainda sou contra a exploração do corpo do outro - infelizmente uma porcentagem significativa dessas meninas é explorada por "empresários", cafetões, pessoas que tiram proveito da situação. Me entristece também saber de mulheres que não são profissionais do sexo por opção, mas por falta de opção, querendo estar em outra, estudando, trabalhando... Para essas mulheres, especificamente, a prostituição pode ser uma violência simbólica muito grande. Também não me agrada uma ou outra que vivenciam cenas impróprias para menores no meio da rua, a qualquer hora (mas essas cenas não são protagonizadas apenas por profissionais do sexo, e sim por pessoas que fazem o mesmo de graça). 

Sinceramente, é hora de deixar de hipocrisia e parar de falar mal das p#tas! A sociedade pudica enche a boca para falar mal delas, assim como fala mal de gays, de transexuais, mas a tal "promiscuidade" está nas micaretas, nas boates, de graça, está na televisão, nas novelas, nos reality shows... Nas palavras da própria Nanci, as profissionais do sexo não vendem seu corpo, mas um serviço: vendem fantasias sexuais, vendem companhia, vendem prazer. Não deve haver nada que impeça sua atuação. Louvo pessoas como a Nanci, que orientam as mulheres, e lutam para que elas tenham uma vida digna, tenham uma base psicológica, pensem no futuro. 

Agora, na minha chatice linguística, me irrito quando alguém chama um político de filho da p#ta, da mesma forma que me irrito quando alguém usa termos como gay, viado, entre outros, como termo depreciativo (já falei sobre isso no blog do Zine Pasárgada). 

Ah! Se tiver curiosidade, procure no YouTube vídeos da Nancy Feijó. Ela foi entrevistada pelo Jô Soares (aliás, uma entrevista divertidíssima, vale a pena conferir). Veja ainda uma reportagem sobre ela clicando aqui. 

"Nada causa mais horror à ordem que mulheres que lutam e sonham"
José Marti



quinta-feira, 28 de julho de 2011

um caminho outro caminho gera

Post dedicado ao meu amigo Chico Lima, ao meu irmão Arthur, à querida Patrícia Olandini e a todos os meus amigos e amigas que sempre me ajudam a olhar adiante.



 


A estrada não trilhada
Robert Frost

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais intransitável me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.

Poema de Robert Frost, traduzido por Renato Suttana, disponível em Luso Poemas